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Entrevista: é possível administrar conflitos em uma organização?

Entrevista SEAC - Coach Raquel Furtado

Como você lida com os conflitos na organização em que você trabalha? Confira abaixo a entrevista que concedi à Revista Momento SEAC.

Há algum tempo, a ausência de conflito deixou de ser garantia de harmonia, de boas relações e, no âmbito das organizações, sinal de competência. Até então, o conflito deveria ser eliminado da organização, pois era tido como prejudicial para a eficiência organizacional. Mas, o que se percebe é uma mudança de paradigma, colocando o conflito como um meio de crescimento, reconstrução e amadurecimento. A ideia de conflito remete a discussões
abertas sobre pontos divergentes, sendo muitas vezes visto como críticas, que podem ser “construtivas ou destrutivas”, considerando-se o imaginário popular. Enfim, definir conflito é fácil e identificá-lo, talvez mais fácil ainda: os ânimos se acirram e se percebe o desequilíbrio emocional. Os reflexos podem ser positivos ou negativos. A forma de lidar com os conflitos é que vai definir a sua toxidade e assim, equilibrar as relações interpessoais na organização.

A Coach Pessoal e Executiva, Raquel Furtado, professora do Instituto de Ciências Gerenciais da PUC Minas, confirma que os conflitos não são ruins em sua essência. “Sem conflito, não há ruptura, e sem ruptura não há crescimento ou inovação. No entanto, em várias culturas, como a brasileira e, sobretudo a mineira, há a tendência de se negar os conflitos e considerá-los sempre negativos”. Segundo ela, não é possível identificar os conflitos mais comuns dentro de uma organização. “Os conflitos entre colegas, entre líderes e liderados, entre áreas, entre empresa e clientes, clientes e fornecedores, ou seja, aonde há grupamento humano, há conflito”.

Para Raquel Furtado, a dificuldade de comunicação é uma das principais causas para emergência de conflitos nas relações interpessoais dentro das organizações, assim como no ambiente familiar. “É comum que as pessoas entrem em confronto porque não compreendem o que o outro está dizendo. Mas isso não explica tudo. Mesmo com uma ótima comunicação, sempre haverá algum conflito, pois as pessoas, assim como os grupos formais e informais dentro das organizações têm interesses diversos, e muitas vezes opostos. Negar isso é negar a realidade da vida”.

Raquel Furtado valoriza a comunicação interna como importante ferramenta para dirimir os conflitos dentro
de uma organização. “Acredito que os conflitos são minimizados, principalmente, pela comunicação face a face.
Investe-se muito em comunicação organizacional, o que é fundamental, mas nem sempre isso é acompanhado de treinamentos para que os líderes e os funcionários consigam se comunicar com as pessoas de uma forma mais adequada e eficiente”, destacou. E quando o assunto é conflito e poder, Raquel Furtado acredita que não é
possível compatibilizar. Conflito e poder são processos que integram as organizações e para muitos, o dinamismo da organização se desenvolve a partir deles. Visto também como a capacidade de impor a vontade e atingir um objetivo, o exercício do poder pode gerar conflitos, que são inerentes à vida humana em todas as suas dimensões. Os conflitos tidos como hierárquicos colocam em jogo as relações com a autoridade existente, e isso, põe em xeque o papel do gestor. Segundo ela, dentre os reflexos gerados pelos conflitos no ambiente organizacional estão a insegurança, insatisfação, falta de cooperação e, no limite, atos que prejudicam outras pessoas e /ou a própria empresa.

No entanto, Raquel Furtado acredita que é possível gerenciar os conflitos nas relações interpessoais nas organizações. “Identificando os conflitos mais sérios, a fim de descobrir as causas principais e, em vários casos, tomar medidas que minimizem ou até acabem com muitos conflitos, principalmente, aqueles que são provocados por políticas de RH inadequadas, falta de comunicação, favoritismo, preconceitos e todo tipo de ação institucional
ou tomada por indivíduos que são consideradas injustas ou prejudiciais por outras pessoas”, explicou. E acrescenta
que é vantajoso investir em uma empresa que trata todos com respeito e igualdade, e que é transparente em suas medidas. “Isso evita muitos conflitos”.